A Morte (de Zilda)

13 de jan. de 2010 by Mari Craveiro
A morte de Zilda Arns provocou uma comoção geral, como era de se esperar. Todo mundo muito triste, alguns indignados e os mais novos se esforçando pra pesquisar e saber quem era ela e o que fez em vida. As reações, como sempre, foram várias. Diante da morte, sempre temos um "que coisa horrível", "uma tragédia", "sacanagem de deus", "isso é muito triste", etc. Triste sobretudo para aqueles que conviviam com ela e tinham uma relação afetiva estreita. A perda, para os próximos, é sempre o mais difícil. Coisa que só o tempo cura, e olhe lá.

Mas para quem está distante e só conhecia a figura pública positiva de Zilda, como eu, é interessante pensar, diante da reação geral,  na maneira como nossa sociedade ocidental encara a morte. O medo, o mistério e a dificuldade em relação a ela são temas que perseguem nossos sonhos e pensamentos.

No meu caminho iniciático na AD'OR, eu aprendi a encarar a morte de uma nova maneira. Saber viver é saber morrer. No Antigo Egito, as pessoas se preparavam para isso e chamavam a morte de "passagem para a luz". Um dos cumprimentos mais comuns eram "eu te desejo uma boa morte". Hoje, desejar isso para alguém seria bem problemático. No funeral, havia sempre um sentimento no sentido de honrar tudo aquilo que a pessoa havia feito em vida. Pois nada material se deixava para a posteridade (não se transmitiam heranças), o que valia era a sua ação, os seus feitos (grandiosos ou não) que eram sempre um reflexo do seu aprendizado e consciência em vida. Morrer era um merecimento, pois havia chegado a sua hora.

Hoje, ao constatar a tristeza e consternação com a morte de Zilda, senti a necessidade de priorizar e fomentar dentro de mim uma homenagem a ela. Senti vontade de dizer pra todo mundo que Zilda não acabou. Zilda continua. Todo mundo continua. A morte é perda aqui. Mas é um direito também.


Mesmo que depois alguns venham dizer que Zilda não era isso tudo, que pessoalmente ela era assim ou assado, o que vale pra mim é a função benéfica que ela exerceu na história recente brasileira. E é isso que eu acho importante ser relevado e honrado, por mais que eu não concorde com  algumas abordagens da igreja católica. Quanto mais paz e vibrações positivas emitirmos em sua homenagem, mais leve será a sua passagem. É o mínimo que podemos fazer por ela.
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3 comments:

Tania Celidonio disse...

Gostei do que você escreveu. Esse aprendizado da morte é realmente uma coisa muito distante para nós, humanos ocidentais do século 21.
Gosto de quando as pessoas boas vivem muito e vivem bem, mas acho muito interessante o que você falou sobre aprender a viver e a morrer.
Continue assim, Marianita....

Mari Craveiro disse...

É, existe um provérbio que diz todo Kabalista morre de pé. Como uma árvore!

biablandy disse...

Esse é um aprendizado que neguei até há pouco tempo atrás. Mas desde a morte do meu pai, perdi o medo de acompanhar esse processo.
Agora é colocar no projeto de vida!
Continue escrevendo, bjs
Bia